quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Produtor de Hollywood Arnon Milchan foi agente secreto para Israel

DIOGO BERCITODE JERUSALÉM
Nascido em Israel, o produtor de Hollywood Arnon Milchan, 68, confirmou anteontem, em entrevista à rede local Canal 2, que trabalhou por anos como um agente secreto a serviço do governo israelense entre os anos 1960 e 1980.
Conhecido por ter produzido filmes como "Uma Linda Mulher" e "Clube da Luta", Milchan admitiu ter sido recrutado pelo hoje presidente de Israel, Shimon Peres, para o Escritório de Relações Científicas (Lakam, na sigla em hebraico), um braço do serviço secreto de Israel, extinto em 1987.
Então um jovem empresário que administrava uma empresa de fertilizantes, Milchan tinha a função de negociar compras de armas e dar apoio material ao programa nuclear israelense, jamais reconhecido oficialmente.
"Sabe o que é ser uma criança de 20 e poucos anos e seu país deixar você ser um James Bond? A ação! Era algo excitante", disse Milchan durante o programa.
Depois de migrar para o mercado cinematográfico, Milchan disse ter abandonado "atividades físicas" como agente secreto para se dedicar ao trabalho nos EUA, mas afirmou ter usado seus contatos algumas vezes --como para dar apoio ao regime do apartheid na África do Sul, em troca de este ajudar Israel a obter urânio.
Dono da New Regency Films, Milchan já produziu mais de 120 filmes, em parceria com diretores como Martin Scorsese e Oliver Stone.
O produtor também teve relação próxima com o ator Robert De Niro, que aparece no programa do Canal 2 dizendo que ouvira falar sobre a ação de espião de Milchan, "mas não tinha certeza".
"Eu perguntei a ele uma vez, e ele me disse que era israelense e é claro que faria essas coisas para seu país."
As informações haviam sido mencionadas fazia dois anos numa biografia não autorizada. Segundo o produtor, ele não é a única figura de Hollywood ligada a tarefas clandestinas. "Às vezes as coisas se misturam", disse.

Um cheiro de Munique em Genebra: O acerto das seis potências com o Irã arrisca resultar na bomba dos aiatolás ou numa guerra com Israel

O primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu classificou de "erro histórico" o acordo que deu ao Irã seis meses para que comprove o congelamento de seu programa de construção de uma bomba atômica, oferecendo-lhe em troca uma suave suspensão das sanções impostas à sua economia. Teatral, durão, ingênuo manipulador do lobby de Israel nos Estados Unidos, Netanyahu encarna as mudanças ideológicas e demográficas ocorridas em seu país. Falta-lhe a densidade moral que, faz tempo, tiveram muitos de seus antecessores. O paralelo com a paz obtida em Munique pelo primeiro-ministro inglês Neville Chamberlain depois de conversar com Hitler, em setembro de 1938, vem de Ari Shavit, um respeitado jornalista israelense. Ele é o autor do melhor livro publicado nos últimos anos sobre os dilemas de seu país ("My Promised Land", ou "Minha Terra Prometida") Ao contrário de Netanyahu, Shavit é um pacifista moderado, crítico da política de ocupação de terras palestinas e do comportamento do Estado judeu nessas áreas.
Seu argumento é simples: Assim como o acordo de Munique não impediu que um ano depois a Alemanha invadisse a Polônia, a moratória não parará a bomba iraniana. Deixando-se de lado o valor da palavra de Hitler em Munique, Israel empenhou a sua dezenas de vezes, garantindo que não fabricaria uma bomba a partir do seu reator de Dimona. Ao contrário do Irã, que está a um passo de montar o artefato, nos anos 50 Israel nem isso tinha. Iludiu sucessivas missões de inspetores americanos e, em 1967, montou sua primeira bomba.
Não é Shavit quem diz, mas se depois do acordo de Genebra não prosperar um dificílimo processo de reconhecimento de Israel pelos árabes, necessariamente acompanhado por uma clara definição das fronteiras do Estado judeu, vem aí uma guerra. É certo que Washington jogará na mesa a carta da desnuclearização do Oriente Médio. Nesse caso o Irã (mais a Arábia Saudita, o Egito e a Turquia) suspenderiam seus projetos e Israel entregaria suas bombas (dezenas). Sem um acordo mais específico, no dia seguinte começa-se a planejar a retomada de Jerusalém.
Até as pedras sabem que Barack Obama detesta --com razão-- o governante israelense, mas Shavit mostra que o descaso das potências ocidentais diante da bomba iraniana não é coisa só dele. A responsabilidade deve ir também para dois outros presidentes americanos, três governantes israelenses e mais uma dúzia de europeus.
A semelhança com Munique está num conjunto que ele chama de "ilusões". O Irã não fala sério nem de seu regime se pode esperar moderação. Do outro lado da trincheira, enquanto em 1938 a França e a Inglaterra não ameaçavam terras alemãs, hoje Israel ocupa territórios árabes e há 700 mil refugiados palestinos no mundo.
A crise do Oriente Médio é uma daquelas questões nas quais muita gente desiste de prestar atenção, perdendo o fio da narrativa. Israel de hoje não é o do século passado. Passou por profundas mudanças sociais, religiosas e políticas. Para quem quiser tomar o pé na história recente desse país, terá boa leitura no livro de Shavit. É uma empolgante reportagem em que ele mostra as glórias e desgraças de Israel, narrando a vida e dando voz a dezenas de personagens. Está na rede, infelizmente em inglês, por US$ 11,84. Coluna Elio Gaspari.
Fonte: Folha 27.11.13
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terça-feira, 26 de novembro de 2013

Ismail Haniyeh e sua neta Aamal Haniyeh: O avô abranda o guerreiro

Esta história poderia ser um conto de fadas, se o ser humano tivesse um bocado mais de tolerância para com "o outro", seja qual for o outro.
É a história de Aamal Haniyeh, menina palestina de 1 ano de idade, que sofre de grave inflamação gastrointestinal que afeta seu sistema nervoso.
Por isso, a menininha foi levada ao Hospital Infantil Schneider, na cidade israelense de Petah Tikva, quase um subúrbio de Tel Aviv.
Aamal seria apenas uma das cerca de 200 crianças palestinas que são atendidas a cada ano só no Schneider, para não falar dos 593 palestinos que, de janeiro a setembro, foram encaminhados a hospitais de Israel --incluídos os de Jerusalém Oriental, área que deveria pertencer aos palestinos, segundo as normas da ONU, mas que Israel ocupa.
Acontece que o sobrenome Haniyeh denuncia o parentesco com Ismail Haniyeh, que vem a ser o primeiro-ministro do Hamas (Movimento de Resistência Palestina), grupo radical cuja bandeira é "lutar contra os judeus e matá-los".
Haniyeh, ainda recentemente, convocou os palestinos da Margem Ocidental [do rio Jordão] a uma rebelião contra a ocupação israelense.
No domingo, no entanto, o avô Ismail sobrepôs-se ao guerreiro (boa parte dos israelenses prefere chamá-lo de terrorista). Mandou ligar para o escritório do coordenador israelense de Atividades Governamentais nos Territórios (ocupados), para solicitar que fosse atendida uma criancinha palestina.
Era, claro, a neta Aamal, imediatamente transferida para o Schneider, acompanhada pela avó materna.
Pena que esta história não tenha final feliz: a neta do líder palestino foi devolvida no dia seguinte à faixa de Gaza, porque seu mal era incurável.
De todo modo, escreve Sarah Tuttle-Singer, diretora de mídia social do "The Times of Israel":
"Naquele dia, Ismail Haniyeh agiu como um avô, da mesma maneira que os avós de minhas crianças teriam agido se seus netos estivessem com problemas: o líder do Hamas pediu ajuda. E, sem hesitação, Israel concordou, e a criança foi transferida através de linhas inimigas para Israel, onde uma equipe de médicos estava esperando."
Fecha com: "As linhas entre Nós e Eles foram embaçadas através do véu das lágrimas de uma mãe".
Eis onde poderia entrar o conto de fadas: se as linhas entre judeus e palestinos pudessem ser definitivamente borradas a partir da gratidão de um avô que suplantasse o ódio de um guerreiro.
Impossível? Também acho, mas não vejo alternativa melhor. E os 65 anos de conflitos desde o nascimento do Estado de Israel são uma comprovação talvez definitiva de que, de fato, não há.
É claro que não dá para ignorar os crimes que cada lado comete contra o outro.

Mas se é possível deixá-los de lado por um momento, para salvar a vida de uma criança, talvez as duas partes pudessem tomar o caso como marco para uma sincera tentativa de salvar tantas outras vidas que o conflito ceifa ou prejudica enormemente, muito mais do lado palestino, é sempre bom ter claro.

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clóvis rossi
Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. É autor de obras como "Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo" e "O Que é Jornalismo". Escreve às terças, quintas e domingos na versão impressa de "Mundo" e às sextas no site.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Iniciativa Econômica para a Palestina - Estado viável depende de criar base econômica

Territórios palestinos sobrevivem de doações internacionais, que servem sobretudo para pagar o funcionalismo
Deficit crônico, pobreza e desemprego da ordem de 25% geram situação insustentável
JOHN REEDDO "FINANCIAL TIMES"
As companhias privadas são tema de intensa atenção internacional nos dias que antecedem o lançamento da Iniciativa Econômica para a Palestina, um projeto de US$ 4 bilhões anunciado pelo secretário de Estado dos EUA, John Kerry, durante conversações de paz entre Israel e Palestina.
O plano, a ser lançado em alguns dias ou semanas, vai ao cerne da capacidade palestina de criar a base econômica de um Estado viável e tenta determinar se Israel permitirá que os palestinos façam isso.
Ele surgiu devido à compreensão, por países que financiam a Autoridade Palestina, de que uma situação econômica que envolve deficits crônicos, pobreza generalizada e desemprego da ordem de 25% --40% entre os jovens-- é insustentável.
As sucessivas rodadas de negociações de paz fracassadas das duas últimas décadas pouco fizeram pela construção de uma economia palestina independente, que seja capaz de se dissociar de Israel e de bancar as suas próprias contas quando chegar a independência.
O plano propõe grandes projetos em oito setores industriais, a serem apoiados por investidores estrangeiros e empréstimos.
GÁS E TURISMO
Vão da extração de gás nas águas ao largo da faixa de Gaza à mineração de potássio no mar Morto.
E incluem empreendimentos de turismo na Terra Santa, como em Belém.
A economia palestina é sustentada pela comunidade internacional desde os acordos de Oslo, que deveriam ter criado um Estado palestino independente em 1999.
Países e organizações contribuem com cerca de US$ 1,5 bilhão ao ano para o Orçamento e em apoio a projetos. E já investiram mais de US$ 20 bilhões desde então.
A maior parte do dinheiro vai para os salários do funcionalismo e para ajudar a financiar o deficit da Autoridade Palestina, já que economia privada está paralisada devido ao conflito político e aos controles de Israel sobre os movimentos, recursos e licenças para empreendimentos nos territórios ocupados.
A economia da Cisjordânia, após se recuperar do caos causado pela segunda Intifada passou, pela primeira vez em uma década, por uma contração no primeiro semestre deste ano.
O Banco Mundial atribuiu o problema a uma queda na assistência externa e aos limites impostos por Israel na Área C, os 61% da Cisjordânia controlados diretamente pelos israelenses.
No mês passado, o banco estimou que relaxar as restrições na Área C propiciaria ganho de US$ 3,4 bilhões à economia palestina, cerca de 35% do PIB dos territórios.

Operação Militar Israelense Pilar da Defesa debilitou a economia da Faixa de Gaza (Hamas)

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quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Aproximação entre Turquia e Teerã muda jogo político regional - Afastamento do Mossad

O impensável, no nebuloso mundo da espionagem, ocorreu semanas atrás e somente não obteve maiores repercussões porque as partes envolvidas, por dever de ofício, nutrem horror pela publicidade escancarada.
O serviço secreto da Turquia, após décadas de colaboração estreita com o Mossad, seu congênere de Israel, delatou às autoridades iranianas uma rede de espionagem israelense no país.
A atitude turca é mais um indício de grandes mudanças no país. O premiê Recep Edorgan, muçulmano devoto, abomina o modelo republicano secular instaurado no país e quer que a nação se volte para o islamismo.
Edorgan surpreendeu a Turquia ao decidir, em setembro último, abolir o veto ao uso do véu islâmico nas repartições públicas.
Ao mesmo tempo, proibiu o juramento de lealdade ao Estado que vigorava como prática diária nas escolas primárias e secundárias.
Essas mudanças incluem a criação de um "pacote de democratização" que objetiva atender às exigências europeias sobre os chamados direitos das minorias e as liberdades civis necessárias à candidatura do país para a União Europeia (UE).
Especialistas israelenses e regionais questionam as ações de Erdogan e as consideram como afirmação de suas verdadeiras tendências islâmicas.
Observadores estão de acordo que os passos simbólicos ensaiados pelo premiê turco indicam que ele está fazendo avançar a sua própria agenda.
Segundo o pesquisador turco Halil Karavelli, em artigo publicado recentemente no jornal "The New York Times", "Erdogan, ao invés de promover os direitos das minorias, como propala, está cada vez mais jogando com o fogo das paixões sectárias". Segundo o analista turco, o primeiro-ministro está transformando a Turquia num barril de pólvora, ao tentar escorar sua própria base política.
"Ele vem tentando intencionalmente ampliar as brechas que há longo tempo separam os turcos secularistas dos religiosos", escreveu.